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Baile de Máscaras

Uma panorâmica na obra de Thereza Salazar

 

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“A imaginação aumenta os valores da realidade. (...) A imagem é tudo, exceto um produto direto da imaginação. (...) Mas as imagens quase não abrigam ideias tranquilas, nem ideias definitivas, sobretudo. A imaginação imagina incessantemente e se enriquece de novas imagens. É essa riqueza do ser imaginado que queremos explorar.”

Bachelar, em A poética do Espaço.

 

 

Amuletos, rituais, ciência e ficção. Tudo é motivo para a pesquisa de Thereza Salazar em seus desdobramentos visuais. Seja através das referências de padronagens gráficas primitivas e naturais ou oriundos de antigas simbologias de poder ou, ainda, em estudos para um ambiente de uma velha ficção científica.

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Os rituais com danças acompanham a sociabilidade humana através dos tempos – no sentido de evocar e agradecer os deuses ou para a sedução dos pares. Em todas as culturas, bailes e máscaras sugerem imaginários sensuais, lúdicos, cheios de mistérios e surpresas.

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Os bestiários também sempre fizeram parte da imagética do mundo. Desde o tempo das cavernas, onde os desenhos deixaram registradas as caçadas de animais pré-históricos, passando pela catalogação de um universo real ou imaginado e chegando até hoje nos processos digitais onde múltiplas transfigurações e referências sugerem seres, muitas vezes de outros mundos, amorosos ou aterrorizantes.

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Thereza Salazar se interessa por tudo isso, indo atrás dos disparates das formas e os desastres das histórias que chegam do oriente e do ocidente, dos quatro cantos do mundo, para criar seu léxico místico, entre o fantástico e o trivial. Magia e ciência interpretadas com rigor técnico, muitas vezes em preto e branco, algumas outras num colorido vibrante. Em suportes e técnicas distintas, como a reprodução serigráfica ou digital, o bordado têxtil, o desenho e na construção de objetos a artista desenvolve séries para falar de relações e inquietações humanas. Filhos da Noite, Cascos Tecidos, Pergaminho, Mutações, Autômatos, Astras são os nomes dados aos trabalhos aqui expostos. Como dito, além de animais, elementos naturais, símbolos científicos e de poder e padrões gráficos permeiam suas séries. Na recente e inédita obra Quatro Elementos ela propõe um jogo de mesa aliado aos elementos da natureza e, como um resumo de seu pensamento processual destacamos:  – “Como não deduzir que a mesa funcione como operadora de conversão entre as potências da natureza e os poderes da cultura, as coisas brutas e os signos organizados?” na pergunta Didi Huberman no seu Atlas, ou O Gaio Saber Inquieto, sobre a memória inquieta das imagens.

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Vida longa aos mistérios e incertezas das sombras imaginadas de Thereza.

 

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Renato De Cara - Setembro de 2023

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